"Somos atores das principais discussões do país", afirma Mario D'Andrea, Presidente da ABAP Nacional

Para o representante do mercado publicitário, do ponto de vista econômico 2020 terá melhor desempenho dos últimos 5 anos

20/01/2020

O novo ano traz a perspectiva de um melhor desempenho para a indústria da comunicação, embora os desafios continuem grandes. Neste contexto, o presidente da ABAP Nacional, Mario D'Andrea (presidente do Dentsu Creative Group), está otimista e motivado, imbuído da certeza de que a publicidade é fundamental para o crescimento do país, para a formação de novos consumidores mais críticos e responsáveis, e essencial para garantir espaços livres para as discussões de assuntos importantes para a sociedade brasileira. "Do ponto de vista econômico teremos um ano melhor que 2019, com certeza", garante.

Na capa da revista Propaganda que homenageou os 70 anos da ABAP, você aparece como um gladiador. Em que medida seu trabalho é heróico à frente da ABAP Nacional?

Acho que a brincadeira da capa se refere mais ao papel da entidade em defesa dos interesses da atividade – e não exatamente do presidente. O trabalho heróico é da ABAP e de toda sua diretoria na luta pela valorização da propaganda e das agências.

Quais são as maiores "batalhas" previstas para 2020, à frente da entidade?

A economia digital trouxe várias mudanças no comportamento do consumidor. Por isso, a nova dinâmica – mais ágil e responsiva – tem que ser refletida em nossa atividade. As agências já estão absolutamente preparadas e atuantes nesta nova economia. Porém, o mercado como um todo e o modelo precisam se adaptar constantemente às novas condições de relacionamento entre clientes, agências e veículos.

Que batalhas ainda valem a pena comprar, e quais não valem mais?

A batalha que sempre vai valer a luta é pelo reconhecimento de que a publicidade é uma atividade fundamental para o crescimento econômico do país. Sem a propaganda brasileira, centenas de negócios não cresceriam na rapidez desejada, milhões de empregos não seriam gerados. A outra luta é pelo respeito às regras que as agências e o mercado como um todo tanto lutaram para estabelecer. Regras éticas, de convivência saudável, criando um ambiente de negócios equilibrado e justo. Nisso se incluem não apenas relações negociais, mas o combate às concorrências abusivas (que já vêm diminuindo bastante, felizmente).

Seria a defesa da liberdade de expressão a principal bandeira da Abap Nacional, hoje e sempre?

Sem dúvida. Liberdade de expressão e democracia são intimamente ligados – um depende do outro. Há décadas a publicidade nacional é  fundamental na manutenção da independência econômica dos veículos de comunicação. E independência econômica significa independência de opinião. Basta ver exemplos contrários, de países sem publicidade forte. Venezuela e Coréia do Norte, por exemplo.

Como se posicionar em relação ao modelo de negócios das agências, em um cenário tão plural e repleto de novos modelos entrando em cena? Para onde caminha toda essa discussão?

Essas discussões, ao nosso ver, têm âmbito e fórum indicado: o CENP. É no CENP que os 3 pilares do mercado (agências, anunciantes e veículos) encontram isonomia nas discussões e decisões. Discussão do modelo de negócios é algo inerente a qualquer segmento, especialmente na realidade da economia digital. Mas essa discussão não pode e não deve ser pública. Não vemos, por exemplo, ninguém discutir publicamente qual o modelo de negócios  de arquitetos ou advogados.

Qual o papel fundamental da ABAP hoje, para a indústria da comunicação?

Fórum para discussão de todos os assuntos internos da atividade. É onde as agências trocam infomações sobre dores comuns e onde devem se juntar à procura das soluções. E, principal, a ABAP é hoje a ponte entre a nossa atividade e todas as demais áreas da sociedade brasileira (imprensa, governo, legisladores, Ministério Público, etc). Somos hoje atores das principais discussões do país.

E como caminham os temas de Compliance e Proteção de Dados, por exemplo?

Fortalecer e ampliar a divulgação das “Diretrizes de Compliance para o Setor Publicitário” continuará sendo uma das prioridades da ABAP. Em 2019, realizamos eventos sobre o tema em sete capitais e, este ano, manteremos nossa agenda de eventos nas demais capitais do país.  É nosso papel incentivar as agências de publicidade a se adequarem ao cenário atual de conformidade, integridade e combate à corrupção.

O ano de 2020 será desafiador com a entrada em vigor da “Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais” (prevista para agosto), e exigirá esforços de todos na adequação às novas regras. Continuaremos atuando em coalizão com as entidades do setor de comunicação para obtermos um assento, e direito a voz e voto junto à Autoridade Nacional de Proteção de Dados. Também planejamos novas ações com nossos associados para assegurar que todos estejam alinhados ao novo marco legal.

O que mais motiva você na posição que ocupa à frente da ABAP, hoje, Mario?

Teimosia, claro. Brincadeiras à parte, acredito profundamente que nossa atividade é fundamental para o crescimento do país, para a formação de novos consumidores mais críticos e responsáveis, e fundamental para garantir espaços livres para as discussões de assuntos importantes para a sociedade brasileira. Sem dizer que propaganda é legal demais...

O que encoraja você em relação ao Brasil, e o que mais desanima?

O Brasil é uma fábrica de grandes executivos, admirados no mundo todo pela sua resiliência e criatividade. Trabalhar em nosso mercado, um verdadeira montanha russa, dá uma escola e uma experiência inigualável. Mas o que desanima é burocracia e a lentidão nas decisões fundamentais para o crescimento econômico e para a geração de emprego e renda para todos os brasileiros.

Como se desenha 2020? Qual o seu palpite?

Do ponto de vista econômico, um ano melhor do que 2019, com certeza – e o melhor desempenho dos últimos 5 anos. Porém ainda acho que as decisões estruturais ainda serão lentas porque o nível de debate entre os principais atores da sociedade brasileira ainda está muito no campo pessoal e defesa do próprio ponto de vista  – e menos sobre o futuro do país, como deveria ser.

Repórter: Por Claudia Penteado/ABAP

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