Ricardo Boechat critica cobertura do impeachment e comenta polarização da sociedade brasileira

“Cabe à imprensa não só atuar de forma isenta mas ser percebida como tal, e isso definitivamente não aconteceu”, afirma.

18/05/2016

O jornalista da Band Ricardo Boechat ministrou palestra na manhã desta quarta-feira (18), durante o  16º Congresso Catarinense de Rádio e Televisão. Com tema “Jornalismo e Sociedade: Parceiros ou Rivais?”, o profissional destacou a polarização da sociedade diante do processo de impeachment e da crise política e econômica. "Embora tenhamos vivido outras crises, nenhuma teve as características polarizadoras desta", acredita. Segundo ele, a mídia também não se comportou como uma força neutra. “Cabe à imprensa não só atuar de forma isenta mas ser percebida como tal, e isso definitivamente não aconteceu”, afirma.

Boechat criticou a cobertura dos meios de comunicação em relação ao cenário político e ressaltou que eles devem visar o interesse dos cidadãos. “A hostilidade reflete muito mais o momento de tensão do que uma verdade perene. A mídia que não reflete o interesse da sociedade é uma mídia natimorta e uma sociedade que não vê na mídia um instrumento de poder do cidadão, de acolhimento, de defesa, é uma sociedade que tende a ficar capenga”, acredita.

O jornalista afirmou que também recebeu severas críticas de ambos os lados sobre sua cobertura – dos que são a favor e dos que são contra o impeachment de Dilma. “Sempre recebi críticas, mas nada que chegasse à contundência e até à agressividade, hostilidade do que nós vimos nos últimos meses. Isso colocou em discussão que a imprensa vem realizando um papel que a sociedade em alguns momentos vê como contrária aos seus interesses”.

Além disso, destacou a utilização da internet e das mídias digitais nesse contexto de tensão social. Segundo ele, no entanto, a internet é “uma forma incrível de pulverizar o conteúdo dos meios de comunicação. O protagonismo do jornalismo tradicional sumiu e temos que aceitar a chegada do outro, encontrar outra maneira de trazer para o jornalismo”, acredita.

Ainda na palestra, revelou também que não tem amizade e nem gosta de entrevistar políticos. “Considero uma deficiência, não consigo cultivar contatos e conversas num mundo político, não me faz falta”. Afirma ainda que entrevistas com políticos são “representação solene” e raramente rendem. “Alguns reclamam comigo ou com o patrão e os piores me processam”, brinca.

Foto: Fernando Willadino

Repórter: Assessoria de Imprensa ACAERT

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