Seminário promovido pelo ‘Integra na Alesc’ discutiu limites éticos e emocionais da cobertura de tragédias e o papel da mídia na prevenção da violência escolar
23/10/2025
Crédito: Rodrigo Corrêa/ Agência Al
O debate sobre limites e responsabilidades na cobertura jornalística de atos de violência no ambiente escolar foi tema de painel em seminário promovido na tarde desta quarta-feira (23), pelo Comitê Integrado para Cidadania e Paz nas Escolas (Integra).
O debate contou com a mediação do deputado Mário Motta (PSD), e na abertura teve as participações dos deputados Fernando Krelling (MDB), vice-presidente da Alesc, e Paulinha (Podemos), coordenadora do Integra.
Também o pai do menino Bernardo, vítima da tragédia de Blumenau, Paulo Edson da Cunha Júnior, se manifestou, falando do projeto “Vamos Salvar o Dia”, que prega a necessidade de os pais se dedicarem mais no relacionamento com seus filhos.

Investigação que evita tragédias
O promotor Barbiero destacou a importância do trabalho de investigação no ambiente das redes, que hoje é desenvolvido pelo Cyber Gaeco, grupo especializado coordenado pelo Ministério Público, com participantes das polícias civil, militar e penal. Segundo ele, desde então, muitas outras iniciativas criminosas já foram detectadas, com o impedimento de novas tragédias. “Só não divulgamos números e ocorrências porque isso é sigiloso”, ele justifica. O promotor também reforça a necessidade de cuidados no trato da informação em episódios trágicos como os de Saudades e Blumenau. E especialmente em não enaltecer os agressores, que podem estimular o chamado efeito de contágio imitador, ou “copycat”, que serve de estimulador a outros possíveis agressores, em razão da notoriedade obtida por quem praticou crimes.
Pais precisam estabelecer limites
A médica pediatra e psicóloga Catarina Costa Marques trabalha a proposta de participação dos pais na vida dos filhos por meio de redes sociais. “Muitos acham que é preciso preservar a privacidade deles, mas ao contrário, é necessário conhecer os ambientes em que as crianças trafegam, e estabelecer limites”. Ela aponta questões que considera como centrais. “A violência nas escolas é algo que tem raiz muito mais complexa e profunda. Tem a ver com as várias formas de bullying, a saúde mental, a educação para as redes sociais e o vínculo entre pais e filhos”. Ela também recomenda que as coberturas jornalísticas nunca priorizem os agressores, e sim as vítimas e os bons exemplos.
Já a jornalista Fernanda Moro conta que em 2021 saiu
incrédula de Chapecó, em meio à pandemia da Covid-19, para se dirigir a
Saudades, quando recebeu a missão de cobrir, para uma rede estadual de TV a
tragédia da Creche Pró Infância. Durante o deslocamento, escutando rádios locais, foi se
conscientizando da dimensão do ocorrido, e controlando as emoções. “Pensei muito em me colocar no lugar das pessoas, das
vítimas e familiares, e respeitar limites. Acho que nessas coberturas é preciso
ter sensibilidade. E o nosso papel é informar e passar a ação das forças de
segurança”.
O jornalista Felipe Sales Cruz também defende a ideia de
coberturas jornalísticas que prezam o enfoque humanizado. Ele acompanhou, no
Vale do Itajaí, a cobertura do ataque à Creche Bom Pastor. “A vivência da
cidade torna tudo mais difícil”, diz ele. A responsabilidade é imensa, e toda busca de informação
envolve decisões delicadas. “A sensibilidade daquele dia vai ter que perdurar”,
diz ele, referindo-se às vezes em que ele ainda terá que voltar a tratar o tema
da tragédia. “A pauta de um massacre não é uma pauta do dia a dia”.

Palestra
A palestra com o jornalista Caco Barcellos encerrou o seminário ‘Comunicação que Protege’, realizado pelo Comitê Integra, para tratar do papel da imprensa na prevenção da violência escolar. Ele apresentou suas considerações sobre como a violência é abordada pela imprensa e pela sociedade, e compartilhou experiências na cobertura policial.
Barcellos alertou para a importância do jornalista e do
jornalismo refletirem sobre as informações que são repassadas ao público em
casos de violência, de tal forma que isso não prejudique ainda mais vítimas e
testemunhas ou venha estimular novas ocorrências. Ele lembrou da importância do
bom senso na definição sobre o que deve ser noticiado. "Já é consenso que
não se deve divulgar o nome do criminoso e ter cuidado com a exposição da
imagem dele", lembrou.
Ao comentar sobre o número de homicídios registrados em Santa Catarina no ano passado - 449 casos -, Barcellos destacou que apenas 6% deles foram praticados por bandidos. "Geralmente se divulga o que chama a atenção do público, o que dá audiência. Temos que refletir sobre isso, se isso não é um desserviço", completou.
Confira o vídeo -
Repórter: Assessoria de Imprensa ACAERT c/ Alesc