Censo 2022 e o rádio: como o meio está se ajustando ao novo perfil demográfico do Brasil

03/11/2023

Emissoras já atuavam como um "termômetro" da mudança de perfil da população. Rádio tem se adaptado ao público, assim como faz com o avanço digital


O Brasil está envelhecendo mais rápido e sua população feminina aumentou. Foi o que revelou o Censo 2022, realizado pelo IBGE, cujos novos recortes foram divulgados na semana passada. Desde o lançamento dos dados gerais, como a população das cidades do país, o tudoradio.com tem chamado a atenção para como isso pode afetar o planejamento das emissoras de rádio, em vários sentidos. Em resumo, esse recorte etário chama a atenção, pois os veículos estão falando com uma população mais velha ou são um reflexo já perceptível desse fenômeno.


Não tem sido incomum atribuir o "envelhecimento da programação de rádio" à possibilidade de "apenas as pessoas mais velhas acompanharem o meio". Essas afirmações são percebidas no dia a dia das próprias emissoras e também no mercado publicitário, reforçadas pela maior oferta de formatos que colam o indicativo "adulto" em sua orientação. Mas isso está mais relacionado ao perfil do rádio como um veículo mais antigo ou a população que ele serve está diferente?


"Os últimos dados do Inside Áudio mostraram que 76% dos ouvintes reconhecem a modernização do rádio em seus conteúdos e formatos, ou seja, afirmações como 'jovem não ouve rádio' podem ofuscar uma série de explicações que, de fato, são verdadeiras", afirma Daniel Starck, do tudoradio.com. Segundo ele, a forma de se consumir o conteúdo de rádio varia conforme a faixa etária e a condição social do público e também para a estação a ser analisada. "O Censo mostra que o rádio só está se adaptando a algo que está em toda a sociedade, ou seja, a população brasileira está mais velha. Em suma, de forma natural, o rádio foi se moldando a essa realidade, assim como faz com o digital na hora de entregar o seu conteúdo", concluiu.


Fernando Morgado, consultor de rádio ouvido pelo tudoradio.com, vai na mesma linha: "O rádio fala para todas as idades, inclusive para os adultos e idosos. Alguns formatos, inclusive, tem maior aderência com esses segmentos, como as rádios talk e religiosas. Isso é muito importante, pois mostra que o meio está preparado para seguir relevante diante do processo de envelhecimento da população brasileira que o Censo revelou", afirma Morgado.


Como exemplo das adaptações, no estado de São Paulo, reconhecido como o principal mercado de rádio do país, a idade mediana da população é de 36 anos. "Nos últimos anos, vimos a evolução de várias FMs que estavam dentro do conceito 'jovem' e 'populares/ecléticas', que passaram a conversar mais com faixas etárias mais elevadas, como 30 e 40 anos, mas sem deixar o jovem de 20 anos de lado. Outras já tinham mirado de uma forma que se assemelha à idade mediana de suas regiões", diz Daniel Starck.


Segundo analistas do setor, isso não significa que todas as emissoras devam correr para envelhecer a programação ou focar no público feminino. "As emissoras precisam entender os dados do Censo em suas respectivas regiões e transpô-los para a realidade do seu mercado de rádio. Explico: se todo mundo correr para o mesmo lado, vão ter parcelas significativas da população local que não serão atendidas pelas rádios. O estudo de faixa etária precisa ser ligado ao de formatos disponíveis na praça, interesse local, incluindo outras variáveis presentes na localidade, sejam elas de perfil populacional ou econômicas", afirma Daniel.


Fernando Morgado lembra que as pesquisas comprovam que o jovem segue ouvindo rádio de forma assídua. “Entretanto, não ouve da mesma forma que décadas atrás, afinal, os aplicativos e o streaming ocupam papel cada vez mais relevante. Essas tecnologias complementam e ampliam a experiência de escuta dos jovens com o rádio", diz o consultor. "As rádios jovens continuam sendo muito relevantes e ocupam os primeiros lugares em diversas regiões. Várias delas, inclusive, são bons exemplos de adequação do meio às novas tecnologias", completa o consultor. 


Idade mediana do Brasil e maior população feminina


O Censo 2022 revelou que a idade mediana do país atingiu 35 anos, representando um aumento de 6 anos em comparação a 2010. A idade mediana é um indicador que divide a população em dois grupos iguais: 50% mais jovens e 50% mais velhos. Em termos de faixa etária, 19,8% da população está na faixa de 0 a 14 anos, 69,3% entre 15 e 64 anos, e 10,9% têm 65 anos ou mais.


Houve um crescimento progressivo da idade mediana da população brasileira ao longo do tempo: era de 17 anos entre 1950 e 1970, 19 anos em 1980, 21 anos em 1990, 24 anos em 2000, 28 anos em 2010, alcançando 35 anos em 2022, com uma projeção média de 43 anos para 2030. O Rio Grande do Sul apresenta a idade mediana mais alta do país, com 38 anos, enquanto Roraima possui a população mais jovem, com uma idade mediana de 26 anos.


Quanto à distribuição por gênero, no Brasil há 94,2 homens para cada 100 mulheres. Nas faixas etárias mais jovens, a população masculina é predominante. A partir dos 24 anos, a população feminina passa a ser maioria no país.

Repórter: tudoradio.com

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