Que mudanças o 5G traz na prática e como isso impacta a radiodifusão?

Especialistas analisam chegada da nova tecnologia e dão dicas de como as emissoras podem se adaptar e aproveitar as novas possibilidades

19/11/2021


Atualmente, há cerca de 15 bilhões de aparelhos conectados à internet no mundo, quase o dobro da população mundial. E, diferentemente do que se tinha há alguns anos, estes equipamentos não são apenas de comunicação entre pessoas, mas podem ser inclusive um aparelho doméstico simples, como uma cafeteira.

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Conectada a um relógio que monitora o sono, ela pode preparar a bebida no momento certo para o desjejum e incluir o café na lista do supermercado quando o pó estiver acabando. E essas compras podem chegar na sua casa automaticamente, enviadas pelo mercado com a fatura incluída na conta do cartão.

Você pode conferir a conta se quiser, enquanto dirige para o trabalho. “Dirige” é modo de dizer, é claro, o carro estará programado para chegar ao endereço, percorrendo o melhor caminho em caso de alguma alteração na via, e se comunicando com outros carros para se mover sem causar acidentes.

O que provavelmente não mude na sua rotina diária é que você vai continuar ouvindo sua estação de rádio preferida no caminho. Mas, como essa programação vai chegar até você também é algo que pode ser afetado pela nova tecnologia.

“O 5G acaba vindo para acelerar esse processo de conexão entre as coisas, a velocidade é muito maior, pode ser até 100 vezes a do 4G. Isso vai permitir conexões muito mais rápidas e eficientes”, explica o especialista em tecnologia e CEO da Manusis, empresa de gestão de ativos, Rodrigo Rotondo. A velocidade e a segurança dessas conexões, unidas a uma capacidade maior de integração de aparelhos é o que vai permitir desde as atividades mais simples, como a da cafeteira, até as mais complexas, como o trânsito autônomo e as cirurgias remotas.

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O 5G vai possibilitar a entrega de conteúdo e interação com usuários em tempo real de verdade, já que o delay se torna imperceptível. “As lives feitas hoje por algumas rádios poderão se tornar mais ricas, incluindo mais recursos de votação, som e imagem com muito mais qualidade. Além disso, o conteúdo de tempo real como transmissões esportivas, poderão ser feitas de ponta a ponta com delay de milésimos de segundos, coisa que hoje, quando está muito bom, pouco se consegue garantir para menos que 4 a 6 segundos mantendo uma qualidade alta de vídeo ou áudio e uma robustez de sinal”, explica Eônio Paulo Pinto Júnior, CEO da MobRádio.

Possibilidades na radiodifusão

Mas afinal, quais os impactos no setor da radiodifusão? O jornalista especializado em rádio e diretor do portal tudoradio.com, Daniel Starck, avalia que é difícil fazer uma previsão a médio e longo prazo em relação a uma tecnologia que ainda está em implantação. No entanto, ele acredita que o primeiro impacto não será entre as emissoras e os ouvintes, mas sim, internamente e na relação com anunciantes. “O rádio, como é uma empresa, tem que criar conteúdo, cobrar clientes, gerar negócio, tem uma série de demandas organizacionais que podem ser aperfeiçoadas com a internet 5G. Pode ser positivo porque aumenta a eficiência mas também é um desafio de como as pessoas vão se adaptar a essas ferramentas no seu trabalho diário”, disse.

Com relação aos ouvintes, ele lembra que o movimento já é de consumo de áudio digital, de vídeo, da distribuição de conteúdo em multiplataforma, mas ressalva que isso não veio em detrimento ao dial, “não existe uma competição, e sim, um complemento importante, a gente tem a oportunidade de passar mais tempo agregado a algum conteúdo de rádio no nosso dia a dia”, afirmou.

O consultor e professor Fernando Morgado compartilha dessa visão: “a Internet é justamente uma das formas que o público usa para consumir os conteúdos das emissoras. Quanto mais aparelhos receptores de conteúdo existirem, maior será o potencial de conquista de audiência em novos lugares e momentos do dia”. Entretanto, ele salienta que o aumento de opções também significa aumento de concorrência: “O potencial de mercado cresce e o número de interessados nele também. Um fenômeno é indissociável do outro”, avalia.

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Mesmo com as vantagens do novo sistema, o professor adverte que ele não tem a capilaridade que a radiodifusão encontra no interior do país: “apesar do leilão do 5G ter sido realizado recentemente, ainda falta para o Brasil entrar de fato nessa nova era tecnológica. Muitos lugares ainda sofrem com péssimas condições de conexão. É o caso, por exemplo, de várias regiões do interior do Brasil, onde o rádio ocupa um papel ainda mais relevante”, pontua.

Como se destacar num mar de opções

Daniel Starck considera que, conforme mais dispositivos tenham conexão 5G, a tendência é que todo o conteúdo digital cresça em consumo e a dica para as emissoras é investir em modelos híbridos que forneçam conteúdos em formatos e plataformas diversas.

Além disso, para garantir uma parcela desse mercado, o jornalista acredita que o mais importante será produzir um conteúdo de qualidade. “Não pode inicialmente encarar o digital como um grande concorrente e o 5G como um problema, e sim, como uma oportunidade. Se a gente tiver com toda essa entrega de conteúdo, sendo relevante e sendo bem executada pode gerar várias frentes de negócio e maior engajamento da audiência. Daí o conteúdo é que vai ser cada vez mais importante, vai ser rei, porque você vai fisgar as pessoas pela relevância do seu conteúdo”, constata.

Já Morgado indica que será preciso conhecer ainda mais o comportamento da audiência: “O que o público vai acessar? Onde? Quando? Como? Nada terá sucesso sem pesquisa e análise feita com o apoio de gente que conheça o mercado. O 5G traz maior potencial de consumo, o que resulta em mais dados e mais concorrência”. E destaca: “Em um cenário assim, insistir no amadorismo significa perder dinheiro”.

O consultor reforça que estar informado sobre o que acontece no setor e atualizar os equipamentos são pontos importantes, mas básicos. Segundo Morgado, para lidar com a ampliação da concorrência na comunicação é preciso inovar e para isso é preciso contar com profissionais preparados. “A inovação nasce de pessoas com boas condições de trabalho, o que inclui melhores remunerações. É preciso atrair e reter talentos. Os radiodifusores precisam impedir que seus melhores profissionais saiam do setor em busca de mais dinheiro ou reconhecimento. Radiodifusão é um negócio feito de gente pra gente. Se a gente vai embora, o negócio vai também”.

Repórter: AERP

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