Santa Catarina e os desafios da migração do AM para o FM

Na sexta reportagem da série "A Força do Rádio" do Portal Making Of, um balanço sobre a migração do ponto de vista técnico e econômico.

02/10/2017

O processo de migração das emissoras AM para o FM continua a todo vapor em Santa Catarina. Em setembro, mais duas emissoras concluíram o processo e já estão operando em Frequência Modulada: Difusorade São Joaquim, agora sintonizada no 106.7 FM, e a Demais Católicade Balneário Camboriú, na frequência 90.9 FM. Agora são 21 emissoras que já migraram do AM para o FM no estado. Outras 18 estão com o processo de migração em andamento.

Nesta sexta reportagem da série A Força do Rádio do Portal Making Of, em parceria com a ACAERT (Associação Catarinense de Emissoras de Rádio e Televisão) é apresentado um balanço sobre a migração do ponto de vista técnico e econômico. “A migração tem como motivação a sobrevivência e expansão do meio e a qualidade é o seu principal benefício”, afirma Marcello Corrêa Petrelli, presidente do Grupo RIC e da ACAERT. “É um ganho enorme para o meio e o radiodifusor precisará investir mais para enfrentar este novo cenário”.

Petrelli diz que há um entusiasmo e uma confiança muito grande dos radiodifusores por causa da relação deles com o meio. Ele não acredita em dificuldades para a migração até pela forma como o governo encaminhou o processo. “O assunto foi tratado com muita sensibilidade, especialmente a questão dos custos para viabilizar a migração”, diz. “A ABERT (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) também fez um trabalho excepcional para encontrar um valor para a compra do FM e isso permitiu que radiodifusores pudessem ter condições de investir no processo”.

O engenheiro Luiz Rosa Reis, consultor da ACAERT, avalia que o processo de migração do AM para o FM está transcorrendo de maneira tranquila em Santa Catarina. Segundo Reis, em alguns casos, as emissoras também dependem de aprovação de seus projetos que são submetidos aos órgãos responsáveis como Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). “Está ocorrendo uma certa demora na aprovação desses projetos”, afirma o engenheiro. Estas dificuldades se repetem em outros estados e não apenas em Santa Catarina. “Por causa dessas questões de ordem financeira e técnica, não há um prazo previsto ou estimado para a conclusão de todas as migrações”, diz Reis.

Neste sentido, a linha de crédito Badesc Fomento, anunciada pelo BADESC e pela ACAERT no dia 28 de setembro, deve contribuir para que, no que diz respeito a recursos financeiros, as emissoras possam agilizar seu processo de migração. Até porque o dinheiro a ser liberado pelo BADESC, destinado para projetos de R$ 250 mil até R$ 5 milhões, atende todas as etapas do processo, incluindo questões burocráticas e técnicas, como taxas, equipamentos e treinamento de pessoal, como informa a ACAERT.

Expectativa para a banda estendida

A migração do AM para o FM para algumas emissoras pode levar um pouco mais de tempo. É o caso das rádios que terão que esperar pelo desligamento da TV analógica para fazer a migração. No total, 56 emissoras, de 34 cidades, não obtiveram canais na atual faixa do FM, de (88 MHz a 108 MHz). Em Florianópolis, por exemplo, a lista inclui as rádios CBN-Diário, Guarujá, Mais Alegria, Cultura e Deus É Amor (antiga rádio Santa Catarina). “Algumas do Oeste Catarinense ainda poderão obter canais na atual faixa de FM”, explica Luiz Reis.

De acordo com o engenheiro, a ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações) está realizando estudos a respeito, para estender a banda com a criação de canais entre 76MHZ e 88 MHZ, mas não há uma data definida para sua conclusão. “Havia um entrave relacionado a insegurança dos fabricantes de receptores de rádio, que só iniciariam a fabricação quando ficasse comprovado através de uma legislação de que a faixa de FM seria realmente estendida”, diz Reis. “Com a assinatura de uma portaria interministerial entre o MCTIC e o Ministério da indústria e Comércio, quero crer que essa insegurança caiu por terra”, destaca o engenheiro.

portaria a qual Reis se refere foi assinada no último dia 21 de setembro, durante congresso da Abratel (Associação Brasileira de Rádio e Televisão), em São Paulo, e publicada no dia 25 (foto abaixo). A portaria tem o objetivo de dar mais um impulso ao processo de migração do AM para o FM. Para isso, altera o Processo Produtivo Básico (PPB) para aparelhos de áudio e vídeo industrializados na Zona Franca de Manaus. Com isso, a partir de janeiro de 2019, pretende-se aumentar a produção e a oferta de aparelhos de rádio que tenham recepção FM com faixa estendida – incluindo os rádios dos carros.

Com esta questão encaminhada, a partir da decisão dos ministérios em favorecer a produção dos aparelhos, o meio terá que enfrentar outros desafios da migração, na opinião do engenheiro Reis. Ele acredita que alguns pontos do processo poderão demorar um pouco mais, a começar pela própria criação dos canais na faixa estendida pela ANATEL.

O engenheiro explica que, como essa faixa pertence hoje aos canais 5 e 6 de VHF de televisão, os mesmos não poderão existir nas localidades onde forem concedidos. O mesmo vale no caso de estar em localidades próximas que possam provocar ou sofrer interferência. “Os existentes só deixarão de existir quando a televisão analógica deixar de existir nessas localidades”, diz. O desligamento do sinal analógico de TV começa em Santa Catarina pela região da Grande Florianópolis(Florianópolis, São José, Palhoça, Biguaçu e Paulo Lopes) que a partir de 31 de janeiro de 2018 só contará com sinal digital.

Outro ponto que pode gerar demora é relacionado ao processo burocrático da migração. Segundo Reis, as frequências de FM da banda estendida serão atribuídas às entidades executantes do serviço de ondas médias que se candidataram à migração pelo MCTIC. “Serão apresentados projetos aos órgãos mencionados que deverão aprovar de acordo com suas capacidades de liberação”, afirma o engenheiro, lembrando ainda que as emissoras se instalarão de acordo com suas capacidades financeiras quando as questões técnicas estiverem definidas.

O futuro de quem não vai migrar

No total, 100 emissoras de Santa Catarina fizeram pedido para migrar do AM para o FM. Apenas oito não demonstraram interesse por trocar de banda e preferem permanecer no AM, que mesmo com o processo de migração seguirá ativo e não será extinto. “As emissoras que optaram por ficar em Amplitude Modulada terão dificuldades em se manter”, avalia Karina Woehl de Farias, doutoranda em Jornalismo (UFSC), professora de rádio (Satc) e pesquisadora sobre a Migração do AM para o FM. Karina justifica sua opinião citando o caso de automóveis e celulares sem tecnologia de AM. “Além disso, o ruído na qualidade de som também é um fator importante que tem afastado anunciantes”, atesta.

Confira as listas das emissoras que já migraram e as que estão em processo de migração.

Emissoras que já migraram para o FM

Demais Católica 90.9 FM (Balneário Camboriú)

Difusora 106.7 FM (São Joaquim)

Coroado 106.1 FM (Curitibanos)

Difusora 91.5 FM (Laguna)

Pomerode 65.1 FM (Pomerode)

Educadora 90.3 FM (Taió)

Cultura 92.1 FM (Timbó)

Gralha Azul 88.9 FM (Urubici)

Menina 89.9 FM (Lages)

Clube 98.3 FM (Lages)

Massa 92.1 FM (Lages)

Clube 101.1 FM (Indaial)

Belos Vales 89.9 FM (Ibirama)

Sintonia 94.7 FM (Ituporanga)

Brasil Novo 94.3 FM (Jaraguá do Sul)

Demais 101.1 FM (Itaiópolis)

Verde Vale 91.9 FM (Braço do Norte)

São José 96.6 FM (Mafra)

Caibi 96.7 FM (Caibi)

Belos 92.1 FM (Seara)

Centro-Oeste 100.9 FM (Pinhalzinho)

 

Emissoras que estão em processo de migração

Clube (Canoinhas)

Cruz e Malta (Lauro Müller)

Rio Negrinho (Rio Negrinho)

Alvorada (Santa Cecília)

Guararema (São José)

Record (São José)

Difusora (Içara)

Planalto (Major Vieira)

Difusora (Maravilha)

Modelo (Modelo)

Nambá (Ponte Serrada)

São Bento (São Bento do Sul)

Marconi (Urussanga)

Líder (Herval D´Oeste)

Catarinense (Joaçaba)

Fraiburgo (Fraiburgo)

Imigrantes (Turvo)

Cultura (Campos Novos)

 


Este é o sexto texto da série A Força do Rádio. Nos próximos serão abordados temas sobre a migração do AM para o FM com a projeção dos radiodifusores sobre este momento especial para o meio.

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Repórter: Alexandre Gonçalvez - Portal Making Of

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