Entrevista com o novo presidente do Sinapro, Daniel Araújo

"Três pilares sustentam a missão do Sinapro: A democratização em receber agências filiadas, independente do tamanho e do faturamento; orientá-las quanto à ética, prática e como a propaganda deve ser realizada para que haja um amadurecimento nas agências pequenas, médias e grandes e essa questão do dissídio"

23/06/2008

 

ENTREVISTA CONCEDIDA AO SITE: ACONTECENDO AQUI


AcontecendoAqui - Desde quando o Sinapro Santa Catarina representa a classe empresarial na área de propaganda?
Daniel Araújo - Oficialmente desde 1983, quando o Sindicato foi fundado. Mas nosso mercado passou a ser considerado no mercado nacional como um mercado profissional, a partir de 1997 na gestão do Saulo Silva, quando fui Vice e realizamos alguns projetos que foram percebidos pelo mercado nacional.

AAqui - Comente sobre esses projetos.
DA - Posso citar que, a primeira revista em CD-Rom criada e produzida no Brasil foi a que fizemos no Sindicato. Foi destaque no Festival de Gramado, aplaudido por figuras como Cristina Carvalho Pinto, Washington Olivetto, Júlio Ribeiro, Ivan Pinto, que era o presidente da ABAP, entre outras personalidades da propaganda nacional. A partir daquele momento, o mercado nacional passou a ver Santa Catarina com outros olhos. Fizemos também o primeiro comercial interativo do país. Imagine a dificuldade em produzi-lo, devido à tecnologia da época. Mas foi uma experiência ímpar, a de sair na frente de agências multinacionais e grandes corporações aqui no Brasil. A partir desse episódio passamos a ser convidados para participar nas reuniões nacionais como delegados regionais. Fomos também os mentores do 1º Fórum de Propaganda Catarinense que pode contar com Walter Longo, que morava em Boston e veio falar sobre planejamento. Outro profissional dos E.U.A, foi Daniels Burrows que veio falar de internet em 1998, no começo da web. Fomos inovadores naquela gestão, quando o sindicato apareceu não só para o mercado catarinense, mas também para o nacional.

AAqui - Quais são os objetivos de um sindicato como o Sinapro?
DA - O Sindicato tem em seu estatuto algumas obrigações. Um dos temas mais importantes é a questão da negociação do dissídio coletivo. Como Sindicato patronal você tem que sentar com o Sindicato dos Publicitários e tratar do assunto. Essa é uma função que pertence somente ao Sindicato que, democraticamente, recebe todas as agências. Mesmo aquela agência mal estruturada, tem os mesmos direitos dentro do Sindicato. Três pilares sustentam a missão do Sinapro: A democratização em receber agências filiadas, independente do tamanho e do faturamento; orientá-las quanto à ética, prática e como a propaganda deve ser realizada para que haja um amadurecimento nas agências pequenas, médias e grandes e essa questão do dissídio.

AAqui - Quantas agências estão filiadas ao Sinapro?
DA ? Atualmente temos 104 agências filiadas...

AAqui - Quantas agências operam no Estado?
DA - Pelo registro do CENP, temos algo em torno de 350 agências com certificado. Muitas delas são ?houses?, autônomos que se beneficiaram ?lá atrás?, Hoje você precisa ter os principais departamentos bem estruturados, comprar pesquisa e toda uma série de condicionantes.

AAqui - Quantos publicitários trabalham no Estado?
DA - Em agências 1.300 profissionais. No geral são mais de 7.000 profissionais registrados.

AAqui - Qual é a mensalidade paga pelas agências? E quais benefícios recebem?
DA - Temos 3 categorias de benefícios que variam de acordo com o número de funcionários. Foi uma decisão da antiga diretoria, mas pretendemos fazer uma alteração, pois acreditamos que os patamares de contribuição devem ser baseados no patamar de faturamento da agência. Fica mais justo. Era assim quando assumi o Sindicato e pretendo mudar imediatamente.

AAqui - E quais os benefícios oferecidos às filiadas?
DA - A agência recebe um certificado que avaliza seu comprometimento com a ética da atividade publicitária. Segundo, dispomos na Fenapro de um dos maiores jurídicos do país em termos de publicidade, que é dirigido pela Dra. Helena Zóia. que orienta nossas filiadas em menos de 48 horas. Devemos contratar um profissional para atuar dentro do Sindicato para responder e atuar com agilidade nas demandas das agências em situações como a elaboração de contratos, atenção aos aspectos dos direitos autorais - quem não estiver atento a isso, com certeza, vai ter um problema no futuro - e vários outros assuntos do dia-a-dia de uma agência de publicidade.

AAqui - O senhor falou em ética por parte das agências. Já houve alguma ação do Sinapro que tenha gerado a exclusão de alguma associada por falta de ética?
DA - Houve. Mas a ação foi por iniciativa do CENP que, a pedido do Sindicato, realizou vistorias em algumas agências, onde encontrou irregularidades e quem tinha que ser excluído do quadro associativo, foi desligado. Nesta gestão. pretendemos formar uma comissão de ética que vai realmente julgar os casos evidentes, procurando orientar a agência para que se recupere mudando atitudes e a forma de tratamento junto ao mercado. E, se houver repetições, onde se confirme a falta de ética, a empresa será convidada a se retirar do quadro associativo.

AAqui ? Qual o montante movimentado anualmente pela publicidade catarinense considerando-se veiculação, produção, criação?
DA ? O último número publicado na pesquisa de 2006 do Instituto Mapa indica investimentos em torno de 600 milhões de reais, aplicados via agências e veículos de comunicação. Em produção, estimamos algo em torno de 200 milhões, números de 2006. O Mapa está realizando no momento uma nova pesquisa, que inclui informações das agências, que vai trazer o montante de 2007, que eu acredito tenha sido maior em torno de 20 a 25%. O que nos colocaria no patamar de R$ 1 bilhão.

AAqui - Qual é a visão do Sinapro em relação à atitude de alguns veículos que criam e produzem comerciais a preços baixos ou até em caráter de bonificação para uma boa parte de anunciantes aqui em SC, colocando no ar propaganda sem criatividade e baixa qualidade de produção? E em relação às agências que abrem mão de parte de sua comissão em favor de anunciantes?
DA - Isso é extremamente delicado. Cabe ao Sindicado orientar e determinar o uso da tabela existente para custos de produção. Há um acordo entre as agências de um limite de desconto que pode ser atingido e que não pode ser ultrapassado, podendo a agência denunciada ser levada à essa comissão de ética que estamos implementando. Quanto à remuneração que pertence à agência, se ficar comprovado que ela está infringindo o que é praticado do mercado, nós vamos, além de excluí-la do Sindicato, orientar o CENP a desclassificá-la como uma agência apta a receber seus honorários.

AAqui - E em relação aos veículos? O que o Sindicato poderia fazer com aqueles que fazem a produção gratuita em troca da veiculação?
DA - Tivemos um caso há muito tempo, quando eu estava na presidência. Aconteceu em Criciúma, onde a filial do Diário Catarinense estava produzindo anúncios para anunciantes diretos. As agências reclamaram e, na época, o Rogério Caldana que era o diretor executivo do DC, prontamente atendeu nosso pedido e parou de oferecer esse serviço ao mercado. Dissemos a ele que não era interessante um veículo fazer aquilo porque ele não daria a melhor qualificação aos anúncios e, conseqüentemente, o anunciante não teria o melhor resultado em vendas. A gente sabe que isso ainda acontece em alguns casos, principalmente em veículos menores, que não têm esse bom relacionamento com agências. Mas pretendemos utilizar esse excelente relacionamento que o Sinapro tem com o "trade de comunicação" para levar a eles alguns casos esporádicos que possam vir a acontecer, para que a gente tenha um mercado cada vez mais profissional.

AAqui - A atitude de alguns veículos incluírem nos descontos para anunciantes diretos a comissão das agências não contribui para os preços tão baixos da mídia em Santa Catarina?
DA - Já escutei essa versão, mas nunca me provaram que um veículo tenha feito isso. Isso não acontece com a minha empresa, não acontece com as empresas que eu conheço, que eu tenho bom relacionamento. Quem pratica isso não pode ser chamado de veículo, e sim de picareta. E esses casos devem ser denunciados e divulgados ao máximo. Inclusive criarmos um boicote a esses veículos, pois a comissão é um direito conquistado duramente pelas agências de publicidade, há muitos anos no mercado brasileiro. E o veículo que atua dessa forma deve ser banido do mercado.

AAqui - Pensando nos publicitários do futuro, aqueles que ainda estão na universidade, como presidente do Sinapro, qual a sua avaliação sobre a qualidade do ensino da propaganda em Santa Catarina?
DA - Uma vez fui criticado, quando presidente do Sindicato, durante uma palestra na FURB para o curso de propaganda. O jornal local me entrevistou e eu manifestei o que tinha percebido nos alunos: falta de conhecimento muito grande muita teoria e pouca coisa da prática. O Reitor me ligou e disse que, como presidente do Sindicato, eu não deveria fazer um pronunciamento como aquele. E eu disse a ele que por ser o presidente do Sindicato, era meu dever fazer o alerta. Porque nós precisamos elevar a qualidade de nossos profissionais, era urgente formar bons profissionais para nossas empresas, pois só contratávamos profissionais de fora de Santa Catarina. Só a parte administrativa ficava com profissionais de Santa Catarina. Acho que serviu para alguma coisa aquela crítica, até porque hoje percebemos que o curso de propaganda da FURB está colocado como um dos melhores do País. Naquela época o Sindicato fez um acordo com as universidades para estágios. E foi uma coisa que começou a funcionar no Estado inteiro. E isso se propagou com os demais cursos, na Univalve, Unisul, mais recentemente na Estácio de Sá.

AAqui - E atualmente, como o senhor qualifica a formação acadêmica do publicitário em Santa Catarina?
DA - Nós ainda não chegamos aos níveis de ESPM em São Paulo e Rio de Janeiro que estão próximas dos 30 anos de mercado, mas estamos próximos.

AAqui - Sua agência emprega publicitários formados em Santa Catarina. Eles têm a qualidade que você espera de um recém formado?
DA - Com certeza! Nós tivemos uma oportunidade nesta semana, quando dois profissionais da agência fizeram uma palestra para 70 estudantes da Estácio de Sá, Eles ficaram impressionados com a interatividade e a participação dos alunos sobre o tema apresentado. Com bastante conhecimento, propriedade nas colocações e boas perguntas. O mercado está amadurecido. As universidades ainda têm dificuldade de ter professores com mais experiência em propaganda, como acontece em outros mercados onde há professores que atuam em agências de propaganda. Nós acabamos de contratar uma profissional que dá aula num curso de propaganda em Florianópolis e que vai atuar em nossa empresa.

AAqui - O Sinapro tem realizado campanha de interesses da comunidade como o mais recente pedindo paz nos estádios. Não seria mais recomendável a realização de campanhas que estimulassem novos anunciantes, por exemplo?
DA ? Além dessa que você citou houve outras como ?voto certo?, ?xô CPMF? etc.
Essas campanhas são solicitadas pelo ?trade de comunicação? do qual o Sindicato é participante. É muito importante dar nossa contribuição para o mercado como criadores das campanhas e eles como executores, veiculando as peças. Com relação a uma campanha para criar novos anunciantes e fazer com que os bons anunciantes que ainda estão veiculando via agências de fora do Estado, também será feita, com certeza. Nosso lema é a profissionalização das agências de propaganda em SC. E isso passa por campanhas publicitárias mostrando a qualidade das nossas agências.

AAqui - Recentemente o Sinapro produziu um audiovisual sobre suas atividades. Como ele é utilizado.
DA ? Essa peça é utilizada sempre que o Sindicato tem oportunidade de se relacionar com o mercado. Ele mostra aos empresários a importância de uma agência de comunicação no processo comercial das empresas. Mas ele não exibe o portfolio das agências, pois ficaria um vídeo muito extenso. Mas vamos executar um novo material e disponibilizar espaço para aquelas que desejarem exibir seu portfolio e, assim, construirmos o acervo dentro do nosso site. Vamos expandir a visibilidade dessa qualidade profissional que temos hoje em Santa Catarina.

AAqui - Em 2004 quando lhe entrevistei na D/Araújo, fiz a seguinte pergunta: ?O senador Leonel Pavan ? atual vice-governador de SC - fez um projeto de lei visando a uma nova regulamentação da profissão de publicitário. O que você pensa disso?. Hoje estou perguntando, como anda esse projeto que recebeu importante apoio do Sinapro naquela época?
DA - Nós vamos discutir melhor esse assunto no IV Congresso. Estive, recentemente, numa reunião da Fenapro em Recife, onde coloquei o assunto para nosso presidente Ricardo Naban, e ele se comprometeu a trabalhar o tema durante o IV congresso.

 

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