Dados da Edison Research mostram que o rádio AM/FM mantém ampla liderança no consumo de áudio apoiado por publicidade e YouTube Music aparece com participação mínima
01/10/2025O mais recente levantamento “Share of Ear” da Edison Research, referente ao segundo trimestre de 2025, mostra que o consumo de áudio nos Estados Unidos segue dominado pelo rádio AM/FM, muito distante das plataformas digitais em alcance. Enquanto o YouTube Music anuncia números bilionários de audiência para seu serviço gratuito com anúncios, a pesquisa revela que sua participação real não passa de 1% do total de áudio apoiado por publicidade, índice considerado irrisório frente ao rádio tradicional (66%). Acompanhe os detalhes:
De acordo com a análise feita por Pierre Bouvard, chefe de insights da Cúmulus Média / Westwood One, o YouTube Music tem feito declarações de audiência em escala “bilionária”, sem esclarecer métricas ou países considerados nessas estimativas. Porém, a realidade captada pela pesquisa é diferente: seu alcance é descrito como “microscópico”, muito distante não só do rádio, mas também de podcasts (20%), Spotify (5%) e Pandora (4%).
Mercado publicitário subestima rádio e superestima streaming de música
Outro ponto de destaque é a diferença entre percepção e realidade na visão das agências. Um levantamento conduzido pela Advertiser Perceptions em agosto de 2025 mostrou que profissionais de mídia e marketing acreditam que Spotify e Pandora concentram 41% do consumo de áudio, enquanto o rádio AM/FM ficaria com apenas 26%.
A Edison mostra que, na prática, o cenário é o oposto: o rádio é 2,5 vezes maior do que o estimado pelas agências. Para efeito comparativo, o rádio é 13 vezes maior que o Spotify gratuito e 17 vezes maior que o Pandora gratuito.
Rádio digital (via streaming) cresce e complementa o FM/AM tradicional
Outro dado importante é o crescimento do streaming das emissoras de rádio. Em 2017, esse formato representava apenas 7% do total de consumo do meio; em 2025 já responde por 13% da audiência do AM/FM. A pesquisa ainda revela que 7% do público ouve apenas a versão online das rádios, 9% consome tanto o sinal over-the-air quanto o digital e 84% ouve exclusivamente o rádio tradicional.
Ou seja, incluir o streaming de AM/FM em campanhas amplia a cobertura, já que um terço dos ouvintes digitais não consome o sinal via dial FM/AM.
O rádio “rei da estrada e das ruas”
O ambiente automotivo segue sendo o maior trunfo do rádio nos Estados Unidos, mercado onde a indústria é mais dependente de deslocamentos, diferente do que ocorre no Brasil e na Europa. O estudo mostra que o AM/FM concentra 85% da escuta no carro, consolidando-se como o principal meio para atingir consumidores no momento da decisão de compra. Os podcasts chegam a dois dígitos em participação entre faixas mais jovens, mas ainda ficam muito atrás do rádio.
Nos dispositivos de voz, como smart speakers, o AM/FM também mantém liderança (54%), seguido pelos podcasts (22%). Nessa plataforma, até mesmo o SiriusXM gratuito supera Pandora e Spotify.
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Força política e alcance em todas as demografias
O relatório também aponta que, entre eleitores registrados nos EUA, o rádio atinge 67% do total de áudio com anúncios, mantendo-se como a principal via de comunicação política, seja entre democratas, republicanos ou independentes. Podcasts, com 20%, aparecem em segundo lugar nesse segmento. Os dados são importantes para quem trabalha com marketing político.
Quando analisados os perfis demográficos, o rádio AM/FM continua à frente em todas as faixas etárias, enquanto os podcasts apresentam maior força entre os públicos mais jovens (18-34 anos e 18-49 anos).
Digital isolado deixa 70% de fora
Um dos alertas do levantamento é direcionado ao planejamento de mídia: estratégias baseadas apenas em plataformas digitais deixam de fora a maior parte dos norte-americanos. O alcance diário combinado de Spotify, Pandora e podcasts é de apenas 31%, contra 60% do rádio AM/FM. Ou seja, planos de áudio exclusivamente digitais não conseguem atingir sete em cada dez norte-americanos.
Ao integrar o AM/FM em campanhas digitais, o alcance sobe de forma significativa, além de aumentar a frequência de contato com os consumidores.
Em resumo, o relatório traz pontos que confrontam diretamente a percepção do mercado publicitário:
-> Os números divulgados pelo YouTube Music não correspondem à realidade, segundo a medição de audiência.
-> Agências e anunciantes superestimam Spotify e Pandora, enquanto subestimam o rádio AM/FM, que continua como o veículo de maior alcance.
-> No cenário de marketing político dos EUA, a presença do rádio é ainda mais expressiva: entre eleitores registrados, o AM/FM responde por 67% da fatia do áudio apoiado por publicidade, independentemente da preferência partidária.
-> O streaming do rádio AM/FM vem crescendo, representando atualmente 13% do consumo total do meio. Um terço dos ouvintes que acessam via internet não consome a versão over-the-air.
-> No ambiente automotivo, o rádio mantém liderança absoluta, com 85% de participação — cenário que faz do AM/FM o “rei da estrada e das ruas”.
Discussão que interessa ao Brasil
Divulgação de números bilionários em consumo não é algo exclusivo das plataformas digitais dos Estados Unidos. Essas mesmas big techs costumam trabalhar com esse posicionamento em outros mercados, como o Brasil. E a falta de aferição padronizada do consumo de streaming de rádio em pesquisas locais também podem causar distorções, como a afirmação de que o YouTube é o maior responsável pela parcela de consumo de rádio no país, de acordo com o último Inside Áudio 2025.
A ferramenta brasileira que mais se aproxima na consolidação desse consumo digital de rádio é da própria Kantar IBOPE Media, através do Extended Rádio, que valida números coletados pelas empresas de streaming, perante um cenário de conformidade e padronização desses dados. Nesse cenário, é clara a manutenção da relevância do rádio no dial terrestre e o crescimento contínuo do streaming das emissoras, conforme já destacado pelo tudoradio.com.
Repórter: TudoRádio