Eventos regionais movimentam cobertura da mídia local e ajudam na venda de anúncios.

Festas de Outubro, como a Oktoberfest, movimentam a economia, a cidade e a cobertura da mídia local.

18/10/2014

A comemoração religiosa Círio de Nazaré é considerada o “Natal do povo paraense”, já a tradicional festa alemã Oktoberfest é a “Copa do Mundo” dos catarinenses. Em qualquer região do Brasil, os eventos regionais movimentam a economia, a cidade e, consecutivamente, a cobertura da mídia local.

Em matéria da edição de outubro (305), IMPRENSA buscou os grandes eventos de cada região do Brasil e conversou com os principais jornais para saber como se preparam para cobrir as atrações e qual o rendimento para a área comercial.

Norte: A população de Belém do Pará espera ansiosamente pelo mês de outubro. É quando acontece uma das maiores festas religiosas do Brasil, o Círio de Nazaré. O evento reúne, anualmente, cerca de dois milhões de pessoas. 

Segundo Layse Santos, diretora de comunicação da agência EKO, responsável pelo Círio, praticamente toda a imprensa trata do tema em outubro, inclusive veículos não católicos. “O Círio é mais que um dia de procissão, é um período de confraternização. Lembra muito o Natal”.

No Diário do Pará, aproximadamente sessenta pessoas do jornal estarão envolvidas na cobertura dos eventos principais do Círio, desde o traslado da imagem da Santa da Basílica de Nazaré até o município de Ananindeua.

No dia da grande procissão, que acontece no segundo domingo de outubro, o Diário publica uma série de cadernos especiais abordando o tema. “São reportagens com romeiros, entrevista com o arcebispo metropolitano, matérias de serviços e muito mais", afirma Clayton Matos, editor-executivo.

Quando a abertura da programação oficial se aproxima, mais matérias sobre os preparativos são produzidas no O Liberal, ocupando de duas a três páginas diárias do primeiro caderno. De acordo com Lázaro Moraes, editor-chefe do veículo, a edição especial do segundo domingo começa a ser pensada e produzida em agosto, e envolve trinta pessoas. 

O evento também movimenta a área comercial do veículo, que espera um crescimento de 10 a 15% em relação ao ano passado. “São definidas estratégias que envolvem produtos e anúncios com formatos diferenciados, em especial aqueles alusivos ao Círio (anúncios de homenagem à santa), sendo um trabalho de cross media com rádio, portal, TV e chamadas institucionais focando um trabalho, principalmente, de associação de marcas”, afirma Marcia Maneschy, assistente de marketing do jornal.

Ainda no Norte do país, o Festival de Parintins, no Amazonas, acontece desde 1965, tendo como o ponto alto do evento a disputa entre dois bois folclóricos, o Boi Garantido e o Boi Caprichoso. Com o tempo, a festa passou a receber cada vez mais a atenção da mídia. Mas de acordo com o jornalista Mário Adolfo, do jornal Em Tempo, nem sempre foi assim.

“No início, os jornais de Belém, como O Liberal,davam mais noticiário da festa que os de Manaus, embora Parintins fique no Amazonas. Ao longo dos anos, o Em Tempo passou a publicar duas páginas de reportagens e, na sequência, um caderno inteiro”, diz ele que cobre o festival há mais de 17 anos.

Como Parintins é localizado em uma ilha, o jornal aluga uma casa na região, se possível próximo ao bumbódromo. O objetivo é enviar a equipe dez dias antes do evento para buscar personagens e cobrir os últimos ensaios e a invasão dos turistas. 

Cerca de um mês antes do festival, em maio, o Diário do Amazonas começa a definir a equipe que vai à Ilha, bem como o estudo de pautas. Dante Graça, editor-executivo do veículo, explica que a publicação busca focar no cotidiano da cidade e na busca por personagens característicos. 

“Parintins é uma cidade com inesgotáveis histórias de amor entre pessoas comuns e os bumbás. Paralelo a isso, buscamos antecipar, sempre que possível, as novidades que os bois vão levar para Arena, abordar a preparação dos itens, fazer matérias que mexam com a rivalidade entre eles”, conta. Segundo Graça, como o festival tem contrato de transmissão com outras emissoras, não existe a possibilidade de exploração comercial por parte do jornal.

Sul: No extremo oposto do país, estão outras duas tradicionais celebrações. No Rio Grande do Sul, a Semana Farroupilha, que se comemora de 14 a 20 de setembro com desfiles em homenagem a líderes da Revolução Farroupilha, rouba a cena.

A celebração faz parte dos Festejos Farroupilhas, os quais incluem ainda o acampamento farroupilha o desfile cívico-tradicional. Os eventos acontecem no mês de setembro, mas os preparativos começam em janeiro, com escolha do tema. O deste ano é: “Sou do Sul”. 

Todos esses eventos são praticamente pautas obrigatórias para a imprensa gaúcha. Por isso, um dos maiores desafios para os jornalistas é buscar um olhar diferente. Nilson Vargas, editor-chefe deZero Hora, conta que há muito tempo o jornal não faz uma cobertura convencional.  

“Sabemos que esse é um assunto que nosso leitor demanda. Todo mundo cultiva essa coisa da tradição. Procuramos todo ano ter uma ideia diferente para a série de matérias. Esse ano estamos fazendo uma sobre lugares sagrados e malditos da revolução”, explica. 

Além da série de sete matérias, que sai diariamente durante uma semana, o jornal cobre os acampamentos e outras notícias sobre os festejos. “Tem um pouco de bom humor, de pegar os acontecimentos daquela edição, testar as comidas, ver qual a cor as pessoas estão usando, ver se tem palavras novas, como cuidam das crianças. O repórter praticamente fica lá [nos acampamentos]”, conta. Segundo ele, toda a cobertura é um produto interessante para o jornal e atrai patrocinadores.

Um pouco mais acima, em Blumenau (SC), em outubro a cidade praticamente respira a Oktoberfest. “A redação não tira férias nesse época, porque é o período de mais trabalho”, conta Evandro de Assis, editor do Jornal de Santa Catarina.

Esse ano, além da cobertura “normal” (que inclui três ou quatro páginas diárias e o abastecimento do site especial), o jornal é responsável pelo guia oficial da festa, que também ensina como curtir o evento. “Tem dicas de como harmonizar tal cerveja com tal prato, quais são os lugares e o que ver”, explica. Com tiragem de 50 mil exemplares, o guia vai circular no jornal no dia da abertura da festa e será distribuído na festa, nos desfiles, nos hotéis e restaurantes em toda a rede hoteleira.

Segundo Patricia Rodrigues, gerente comercial e marketing da publicação, o evento é sempre interessante do lado financeiro e publicitário, pois aumenta a quantidade de anunciantes, de patrocínio e de circulação do jornal. “Os conteúdos específicos são atrativos para as marcas e alavancam as oportunidades de receita. Além disto, temos impacto na circulação, devido a ampliação de distribuição com o alto fluxo de pessoas na cidade”, explica. “É a nossa Copa do Mundo”, complementa Assis.

Repórter: Gabriela Ferigato e Jéssica Oliveira | Revista Imprensa

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